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A estrada corta o deserto em Jawbone Canyon: cenário de filme, caçada a criminoso e solidariedade americana |
Sabe aquele filme
A morte pede carona? Mas o original, com
Rutger Hauer no papel do vilão? Pois é.
Para quem viu aquele filme numa das sessões da tarde da vida, ele é
inesquecível. E quando se dirige por estradas praticamente vazias, no meio do
deserto californiano, é quase impossível não se lembrar dos apuros de C. Thomas
Howell ao dar carona ao desconhecido.
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Na chegada, relativa tranquilidade... |
Precavido que somos, claro que não demos carona para ninguém,
mas depois que saímos de Red Rock Canyon vivemos momentos de apreensão.
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Arthur brincando com Blue |
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Cachorros fogem do calor na câmara frigorifica |
Ainda em Red Rock, um outro viajante chamou a atenção para
um problema no nosso carro: o aerofólio frontal, sob o motor,
havia se soltado em quase sua totalidade, e arrastava-se pelo chão. Não dava para
arrancá-lo e colocar na mala e, assim, a viagem dali para a frente se tornaria
muito perigosa em termos de segurança e ainda corríamos o risco de ser parados por
alguma highway patrol e levarmos uma bela duma multa.
A solução, então, foi buscar o aglomerado populacional mais
próximo para tentar resolver a situação. Saímos de Red Rock quase pelo
acostamento, com pisca-alerta ligado, e
eis que, em menos de 500 metros, avistamos uma espécie de condomínio.
Embicamos o carro naquela direção, onde nos deparamos com
diversos carros de polícia e até um helicóptero
pousando naquele exato momento. Estranhamos duas coisas: o xerife atravessou seu
carro no meio da pista e, ao avistar o nosso, levou a mão à arma. Imediatamente abrimos o vidro e mostramos que éramos uma família. Ele tirou a mão da arma, e pudemos explicar o
que havia acontecido e pedir ajuda.
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Jawbone é isso aí. E só. Nos fins de semana rolam encontros de motoqueiros e show de rock e bebedeira |
Sem muito se alongar, o xerife nos disse para buscar ajuda num
posto próximo dali, a uns 200 metros mais ou menos. Falamos de nossa preocupação
com uma possível reprimenda da polícia e ele disse que estava tudo bem. Seguimos a
orientação e nos dirigimos ao posto que tinha o sugestivo nome de Jawbone (algo
como osso de maxilar) Canyon.
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Flávio e a estrada deserta: no verão americano, o calor é infernal na região |
No local fomos super bem recebidos e rapidamente dois ou
três moradores da região se prontificaram a nos ajudar. Enquanto isso,
Arthur se divertia com dois simpáticos cachorros que buscavam abrigo do calor
dentro da câmara fria do lugar (Blue e Bear) e nós aproveitávamos para exercitar nosso inglês
um pouco mais, conversando com os simpáticos Dave e Kimberly, que acabariam se tornando nossos anjos da
guarda.
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Kimberly, com Fernanda, Arthur e Bear, o simpático cão que dorme no frigorífico |
O problema do carro não pôde ser consertado e o jeito
foi ligar para a locadora e pedir outro veículo. Só que a SIXT não tinha loja
próxima de onde estávamos, a cerca de 300 quilômetros de Los Angeles. Pior, era
sexta-feira, dia de trânsito infernal naquela cidade e a locadora também não
dispunha de carros para fazer a troca. Muita briga, muita discussão ao telefone
e a primeira previsão era de que o carro chegaria em aproximadamente três horas.
Eram 14h àquela altura. Só que o posto de gasolina e a loja de conveniência
fechavam às 17h, ou seja, na melhor das hipóteses, o veículo seria substituído
no limite de horário.
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Deixando Jawbone seguindo Dave e Kimberly por pelo menos uns 20 quilômetros |
A situação, no entanto, se agravou quando a locadora admitiu
não ter previsão de entrega de outro carro para antes de 20h. O que nos
restaria fazer, então? Ficar ali, no meio do nada, dentro do carro? Já estava
convencido a fazer isso, mas o que descobrimos depois nos deixou apavorados:
aquele grupo de policiais pelos quais havíamos passado estava caçando um
assassino que matara um homem na região na noite anterior e se refugiara por
aquelas bandas. O sujeito ainda havia mantido reféns três jovens durante horas,
ameaçando-os de morte. Fugiu com a chegada da polícia.
Para aumentar a tensão, até mesmo um ranger que não costuma
andar armado, apareceu no posto com uma pistola na cintura e falou de suas
preocupações. Caraca, e nós ali, no meio daquela loucura com uma criança de
8 anos...
Procuramos manter a calma. Telefonamos diversas vezes para a locadora, descascamos os atendentes, explicamos o risco que
estávamos passando e nada. Portanto, um conselho, em caixa alta:
NUNCA ALUGUE CARRO DA SIXT. Eles vão te
deixar na mão se você precisar.
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Seguindo Dave e Kimberly numa estrada ainda mais deserta |
Para nossa sorte, Dave e Kimberly se mostraram realmente
anjos. Ambos ex-militares, os dois se prontificaram a nos guiar, por uma
estrada secundária, até um hotel numa
cidadezinha chamada California City, onde nos acomodamos num Best Western excelente
até a chegada do carro substituto, isso somente às 21h!
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No fim das contas, o dia terminou assim no hotel Best Western de 'Cal City', apelido da localidade |
No dia seguinte, foi acordar, pegar o carro e meter o pé na
estrada até Los Angeles, e sem paradas pelo caminho.
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Carro trocado, som na caixa e uma constatação sobre o conselho da música: nem sempre, caro Dio, nem sempre. |
Ah, e sobre a caçada ao criminoso, ela durou mais duas
semanas, com direito a tiroteio, dois policiais atingidos e o foragido morto
pela polícia...
Não levou fé na história? Então confere aqui:
A caçada ao criminoso